terça-feira, 11 de novembro de 2008

Mania nossa de cada agonia.



- Voltei.
- MEU DEUS! ADRIANA! Como...
- Voltei, caramba. Você achou que eu fosse ficar lá pra sempre, sem culpa nenhuma?
- Adriana, como você não avisou que ia voltar? Como NINGUÉM avisou?
- Quis guardar surpresa pra ver se eu ia voltar e os móveis iam estar no lugar. Cadê aquele meu quadro de art nouveau que tinha ao lado da prateleira de livros?
- Vamos sentar e conversar, querida. Você está pálida, vou preparar uma canja e...
- MÃE, CADÊ - O - MEU - QUADRO ?
Adriana era impulsiva, ansiosa, roía as unhas desesperadamente quando tinha algo importante a realizar e, além de tudo, sofria de seríssimos TOCs. Suas pantufas - as mesmas desde a adolescência, quando o pé parou de crescer - tinham que estar sempre ao lado da poltrona da sala de tevê, na mesma posição, uma em cada ladrilho do chão, os da terceira fileira a partir da parede. Tinha quatro colchas de cama, uma para cada semana do mês, e AI da empregada se trocasse as semanas e colocasse a colcha da terceira na segunda. E, a mais importante: os móveis tinham que estar sempre no MESMO lugar, nem um milímetro fora, nem uma coisa a menos, nem uma caixinha de loja indiana nova em cima do criado-mudo. Tá, talvez isso não seja TOC, mas é uma amostra da irreverência de Adriana.
Naquele dia, após quatro anos fora vendo o sol nascer quadrado por envolvimento com tráfico de drogas [o que fez para se aproximar de Jorjão Casca Grossa], voltou para casa de surpresa, para ver como estavam as coisas sem ela. Na cadeia, causou muita confusão com suas manias, sem suas pantufas, e foi expulsa de três celas. É, é compreensível.
Sexta-feira, sol quente, as pessoas saindo aliviadas do trabalho e indo para seus happy-hours regados a chopp, Adriana chega em casa sem bater na porta e depara com uma sala desconhecida, o sofá no lugar da estante, a estante no lugar da estátua e a estátua no lugar do sofá. E seu quarto, como estaria? Respirou fundo e saiu enfurecida, dando as costas à mãe e foi verificar seu ninho, na esperança de achar pelo menos a colcha no dia certo, ou a cama encostada na parede. Adentrou a primeira porta do corredor, Nada de acordo. No lugar dos móveis estavam caixas empilhadas, a cama estava desmontada e até a cortina mudara. Num acesso de raiva, começou a atirar as caixas no chão, querendo achar seu quadro art nouveau, seus livros, seus filmes, seu computador, suas fotos. Nada, nada, nada... Abrindo as caixas enfurecida, se deparou com um kit para churrasco, repleto de facões afiados, reluzindo à luz que saía da fresta e uma idéia a iluminou imediatamente, e ia crescendo à medida que atravessava o corredor correndo, com a cabeça em borbulhas:
- MÃÃÃE, QUEM FEZ ISSO? QUEM TRANSFORMOU MEU QUARTO EM UM SÓTÃO FANTASMAGÓRICO? QUEM? QUEM?
Sua mãe, assustada e ciente da falta de juízo da filha, tentou entender a situação e disse, em tom calmo, quase num sussurro:
- Caso você tenha se esquecido, seu quarto, com a colcha da segunda semana do mês e o quadro que você mesma mudou de lugar pouco antes de ir embora, é a segunda porta do corredor, e não a primeira.

5 comentários:

Miudezas que me transbordam disse...

haduashdiuashdiusadhsaidhaisudhaiudhasiudhaiudhdiuhdiahdasiudhaiudhaiudhaiudhaiudhaiudhaidhaidahsidusahduiashdiuahdiuahaisudhsaiudhaiudhaih




imaginando a cara de sem graça da Adriana. morri

Fafá disse...

Uma pessoa compulsiva, louca, com TOC's... Nossa, essa Adriana me fez lembrar de alguém que mora em mim. o.O

DANIELLE NASSIF disse...

Achei sensacional.

E me deu vontade de chorar. Haha, que idiota, né?

JOAO PAULO VIANA disse...

vc é linda...casada..???como posso falar com vc....jpeear@gmail.com

Manuella . disse...

Q